Dados extremamente preocupantes
Estimativas do Ministério do Meio Ambiente apontam que a Paraíba destrói, a cada ano, 42,5 mil hectares da caatinga, devastação que já eliminou do mapa metade do tamanho original desse bioma no Estado.
Devido à degradação ambiental, a Paraíba é o Estado com maior risco de desertificação em todo o Nordeste.
O perigo da desertificação no Estado está relatado no ‘Plano de Ação para Prevenção e o Combate ao Desmatamento na Caatinga’, documento oficial da Casa Civil da Presidência da República que traça as diretrizes de combate ao problema no Nordeste.
O relatório aponta que a Paraíba possui 63% do território afetado por processos de desertificação, sendo o Estado do Nordeste com maior nível de susceptibilidade a perda da fertilidade do solo.
Seis ministérios, além da Casa Civil, estiveram envolvidos na elaboração do plano, entre eles o Ministério do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia, da Integração Nacional e da Agricultura.
AÇÃO DO HOMEM
Em comparação com os outros estados do Nordeste, o Ceará possui 52% da área afetada pela desertificação, enquanto o índice no Rio Grande do Norte é de 36% e em Pernambuco, de 25%. No Estado de Sergipe, o percentual de áreas sob risco de desertificação em algum grau chega a 12%, enquanto o Piauí tem 6% de sua superfície afetada, a Bahia 5% e Alagoas apenas 3,2%.
A ação do homem está entre os principais fatores que contribuem para a desertificação. “A susceptibilidade à desertificação envolve vários fatores como o tipo de solo mais vulnerável, a intensidade das chuvas e a voracidade humana”, explica Arnóbio Cavalcante, pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), sediado em Campina Grande.
Segundo o monitoramento do Ministério do Meio Ambiente, só na Paraíba foram desmatados 1.013 km² de caatinga no período de 2002 a 2008.
Entre os municípios com maior índice de desmatamento no período estão São José de Piranhas, com 71,7 km² (10,56% da caatinga no município); Cajazeiras com 59 km² (10,05% da caatinga no município); Santana de Mangueira com 26 km² (6,46%); Carrapateira, com 12,4 km² (17,15%); Remígio, com 12,2 km² (6,84%) e Pedra Branca, com 11,8 km² (6,07%).
No ranking dos estados que mais perderam vegetação, a Paraíba aparece na 6ª posição. Em primeiro está a Bahia, com uma área desmatada de mais de 4,5 mil km².
Logo depois surge o Ceará, com 4,1 mil km² e o Piauí, com 2,5 mil km² de área devastada. Pernambuco perdeu 2,2 mil km² e o Rio Grande do Norte 1,1 mil km² de área.
Após a Paraíba aparecem Minas Gerais, com 359 km²; Alagoas, que perdeu 353 km² de caatinga; Sergipe com 157 km² e o Maranhão, com 97 km² de área.
Até 2002, a caatinga mantinha cerca de 43% de sua vegetação original, mas entre 2002 e 2008 perdeu-se, ao todo, mais de 16 mil km² de áreas florestais. Segundo a Sudema, 19 espécies de plantas típicas da região estão ameaçadas de extinção, entre elas a aroeira-do-sertão, baraúna, umbuzeiro, giqui, taperebá, xique-xique e macambira.
CAATINGA
A caatinga é uma formação vegetal típica do semiárido nordestino e é considerada pelos especialistas como o único bioma natural exclusivamente brasileiro, o que significa que grande parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta.
Mais de 28 milhões de pessoas habitam regiões de caatinga, o que representa cerca de 12% da população brasileira. A área total abrange 844 mil km², cobrindo todos os estados do Nordeste e parte de Minas Gerais.
Sua vegetação é adaptada ao clima seco e é constituída por formações de baixa densidade de plantas e árvores que resistem à perda de água. Segundo estimativas do Ministério do Meio Ambiente, cerca de 70% da caatinga já se encontra alterada pelo homem e somente 0,28% de sua área encontra-se protegida em Unidades de Conservação.
Falta estrutura para combater desmatamento
Um dos principais obstáculos para o combate ao desmatamento na Caatinga ainda é a falta de estrutura para a fiscalização no Estado. Para Fábio Medeiros, secretário-executivo de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, a solução é garantir a presença da fiscalização nas áreas mais isoladas do Estado.
“Falta uma maior descentralização das ações da Sudema, que deve estar cada vez mais no interior. Para isso, é preciso que os escritórios regionais sejam reestruturados para fazer uma maior fiscalização”, analisa.
Mas especialistas apontam que é preciso integrar a comunidade através de iniciativas que garantam o uso dos recursos naturais de forma sustentável.
“As alternativas para a Caatinga passam pela criação de entidades de conservação e a aplicação da ideia de desenvolvimento sustentável. A gente trabalha tanto com a conservação dos recursos naturais, como o uso sustentável desse material, considerando os benefícios econômicos da conservação”, afirma Arnóbio Cavalcante, pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido (Insa).
O manejo sustentável das espécies nativas usadas para a produção de lenha é uma das alternativas viáveis. É o caso das plantações de algaroba. “A salvação da nossa Caatinga é a algaroba quando usada de forma autorizada. Nos últimos anos vem aumentando o número de pessoas que procuram o manejo florestal e o que nós defendemos o manejo da Caatinga de forma sustentável e legal. Há como manejar a Caatinga sem derrubá-la completamente, fazendo um rodízio de área”, explica Fábio Medeiros.
O turismo ecológico e a recuperação da qualidade do solo também podem gerar renda e evitar o uso predatório. “Projetos que ofereçam fontes de renda para a população da Caatinga com reflorestamento, melhoramento do solo, manejo e reprodução de animais silvestres, ou até mesmo o turismo ecológico e cultural, são algumas da atividades que podem ser implantadas para oferecer melhores condições de vida à população, evitando que, por necessidades financeiras, venham degradar os recursos naturais”, acredita Roberto Almeida, coordenador da Sudema em Campina.
Investimentos
Para tentar conter o desmatamento da Caatinga e evitar o avanço do processo de desertificação, o Governo da Paraíba planeja lançar ainda este ano três programas de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, num investimento que deve superar R$ 50 milhões. Ainda não há prazo para a implantação do programa que deverá ser realizado em todas as regiões do Estado, mas principalmente nos municípios do Cariri e Seridó.
De acordo com Fábio Medeiros, será lançado este ano o Plano Estadual de Combate à Desertificação e à Mitigação do Efeito da Seca, além do Procase, Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri e Seridó.
“O Procase visa a desenvolver de forma sustentável o Cariri e o Seridó, que são as duas regiões mais carentes e com problemas de degradação ambiental devido ao uso inadequado do solo, desmatamento, alta taxa de animais por área, mineração, indústria cerâmica e salinização”, informou o secretário-executivo de Recursos Hídricos e Meio Ambiente.
Já o programa ‘Paraíba Verde’, ainda em fase de planejamento, pretende criar uma rede de viveiros de mudas em diversas instituições públicas e privadas em todo o Estado.
Segundo Fábio Medeiros, já foram mantidos contatos com as principais universidades públicas do Estado (UEPB, UFPB e UFCG), além das ONGs Centro Vida Nordeste, SOS Rio Piancó, SOS Rio Cuiá e da Cooperativa Rio Mamanguape, além de outros parceiros.
“A ideia é mobilizar gestores e sociedade para recomposição vegetal nas cidades e no campo, principalmente as nascentes e matas ciliares”, garante.
Fonte: Vitrine do Cariri
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